Vida Pessoal
Nascido em dezembro de 1921 sob os cuidados de uma parteira, na pacata
Nova Lima (MG), Milton Soldani Afonso é filho de José Affonso Filho e Genebra Soldani. Porém, sua identidade demorou, digamos, um pouco para ser consumada. Seus pais só conseguiram registrar o garoto 13 anos depois de seu nascimento, que, aliás, é motivo de orgulho. Sua mãe engravidou 11 vezes, mas somente três filhos sobreviveram.
De origem humilde, a família morava em uma modesta casa na região metropolitana de Belo Horizonte. Seu pai foi uma pessoa aventureira e bem intencionada, mas o jogo e a bebida eram suas maiores fraquezas. Para complementar a renda do lar, sua mãe costurava e fabricava pé de moleque e cocada artesanalmente. Ao chegar da escola, o garoto ia vender as guloseimas.
Sonhador, o pequeno já imaginava como poderia ajudar a família a sair daquela situação. Milton lamentou o sofrimento, mas tem um coração grato por todas as experiências. Diante das dificuldades, o jovem passou a reunir forças para seu viver a partir das histórias bíblicas narradas por sua mãe. A Palavra o encorajava para enfrentar os desafios, tal qual a história do menino Davi que venceu o gigante Golias.
Aos nove anos de idade, Milton teve o primeiro contato com a mensagem de esperança anunciada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Uma conferência dirigida pelo pregador Albert Hagen, em um salãozinho com capacidade para no máximo 50 pessoas perto de sua casa foi um marco em sua vida. Nessa época, o menino sonhava em ser aviador como Santos Dumont, mas o desejo de Deus era outro.
Em 1934, Milton ganhou uma bíblia de um padre, que o achava muito esperto. De volta a Minas Gerais, no mesmo ano, sua mãe o matriculou em um grupo escolar em Belo Horizonte. Uma professora avaliou que o garoto sabia
muito mais do que as crianças da sua faixa etária. Ele dominava desde assuntos gerais às mudanças políticas que ocorriam no Brasil. Milton passou diretamente à 4º série.
Pouco tempo depois, por decisão de sua mãe, o menino foi estudar no Colégio Adventista Brasileiro (CAB), atual Unasp 1, em Capão Redondo (SP). A viagem de trem durou dois dias. Magro e pálido, a criança foi apelidada de "pepino" pelos colegas de classe. A vida de Milton definitivamente não seria a mesma. O Senhor tinha planos maiores, e um passo importante para toda essa história ocorreu em 1937, com o seu batismo pelo pastor Juan Meyer.
Vidas Ajudadas
Por mais de três décadas, milhares de crianças e jovens têm sido cuidados e educados pelo ministério de Milton Afonso. O advogado também impactou milhões de pessoas através dos meios de comunicação. Ele começou a incentivar e apoiar a igreja a ter suas próprias emissoras. Em 1989, adquiriu a Rádio Ipanema, tradicional no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, foi iniciada uma verdadeira revolução na comunicação adventista brasileira: o advogado adquiriu outras 25 estações radiofônicas.
Em 1992, Milton sentiu o desejo de ajudar a montar uma rede de televisão por satélite que cobrisse o mundo. O investimento era alto, mas sua fé superava os obstáculos. Assim, em 1997, o empreendedor doou duas grandes propriedades para serem usadas como um moderno centro de mídia. Além dos investimentos em equipamentos.
No ano 2000, a igreja passou a cobrir 50% do custo da faixa do satélite. O sonho de Milton alcançou as Américas do Sul e Central, e as regiões Sul e Leste dos EUA, além de Portugal e outros países da Europa Ocidental. Bênção. Por fim, ele comprou 68 estações de rádio ao redor do mundo. Assim, a Rede Novo Tempo de Comunicação (NT) - em português, espanhol e inglês - tornou-se um poderoso meio de salvação.
"Embora minha posição na vida tenha mudado muito, uma coisa que o dinheiro não mudou foi minha fé em Deus, a quem devo tudo que sou. Toda a glória seja dada ao Senhor Altíssimo", diz Milton Afonso. Em 2004, ele aceitou lançar sua biografia pela Casa Publicadora Brasileira (CPB), escrita por Manuel Vásquez.
Vida Empresarial
Em abril de 1971, motivado pelos amigos João Alberto Persson e José Carlos Elias, o advogado decidiu criar a Golden Cross, instituição filantrópica com todo lucro direcionado a projetos educacionais, de assistência social e evangelização.
Em junho desse mesmo ano, a empresa já funcionava em três cidades: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Dez meses após sua fundação, a instituição atingiu a marca de mil associados. O progresso foi ratificado em 1984, quando a Golden Cross se tornou a maior companhia de saúde na América do Sul e a quarta maior no mundo. O advogado queria fazer mais, sobretudo na área educacional.
E uma grande oportunidade surgiu no final de 1985, quando o então Ministro da Educação, Marco Maciel, pediu para Milton ir à Brasília. Ciente da ligação do advogado com o presidente Tancredo Neves e da escola agrícola que fundara em São João Del Rei a seu pedido, o ministro perguntou se a Golden Cross poderia assumir a administração da Organização Santamarense de Educação e Cultura (OSEC). O governo daria total apoio, menos na área financeira.
Tal proposta poderia se tornar parte da realização de seu sonho em ajudar estudantes carentes. Os negócios de Milton prosperavam rapidamente. Então, ele decidiu entregar tudo para a organização de sua máxima confiança, a IASD. Em 1987, o pastor Neal Wilson, então presidente mundial, respondeu ao empresário: "Sinceramente, apreciamos seu gesto generoso.
Na verdade, o senhor está mais qualificado para dirigir um império tão grande como a Golden Cross. Foi um gesto nobre de sua parte, porém assinaremos um documento devolvendo tudo ao senhor e sua família. A missão da igreja não é acumular edifícios, mas preparar pessoas para o Céu."
Fé e Obras
Em meados de 1989, a empresa de saúde tinha mais de 60 milhões de dólares em bancos. Então, o inesperado ocorreu. No mesmo dia em que o presidente Fernando Collor tomou posse, foi assinado um decreto confiscando todo o dinheiro em circulação no País. Na manhã seguinte, Milton acordou sem nenhum centavo. Pouco tempo depois, todas as instituições registradas no Congresso Nacional de Serviço Social tiveram seus valores liberados. Alívio.
Em 1994, mais um marco foi alcançado. Em 29 de dezembro, a OSEC passou a ser uma universidade plenamente habilitada, conhecida como UNISA (Universidade de Santo Amaro), que, posteriormente, se tornou a maior universidade particular na grande área metropolitana de São Paulo, com mais de 15 mil alunos, quatro belos campi e 36 cursos superiores. Mais de 25 milhões de dólares foram investidos entre 1985 e 1994.